Páginas

quinta-feira

Alcoolismo Infantil - Influência da Cultura e dos Pais


"Um estudo inédito desenvolvido por profissionais do Hospital de Clínicas de Porto Alegre revelou que os hábitos, a cultura e o ambiente são fatores que potencialmente influenciam o uso de álcool na infância. A pesquisa teve como base a cidade gaúcha Flores da Cunha, na região da Serra, considerada o maior pólo produtor de uva e vinho do País".
O trabalho, intitulado "Consumo de Bebidas Alcoólicas por menores de 15 anos residentes em um município de colonização típica italiana no Rio Grande do Sul", foi realizado no ano de 1991 junto a 92 famílias residentes na zona rural do município de Flores da Cunha. Após analisar os hábitos familiares e acompanhar de perto uma criança de cada família, a pesquisa revelou que 58,5% das crianças ingeriam algum tipo de bebida alcoólica. A alta incidência foi diagnosticada em crianças com idade entre oito meses a nove anos. "As mães têm o hábito de molhar o bico da chupeta da criança, ainda muito pequena, no vinho", afirmou Themis. Mas ela ressalta que nada é feito de forma intencional. O que leva os pais a essa atitude são os hábitos culturais daquela região, típica produtora de vinho.
O que preocupa a especialista é a quantidade de álcool consumida pelos menores. Em alguns lares foi verificado que crianças chegavam a ingerir 1,3 litro de álcool por semana, sem que o alto consumo fosse notado pelos pais. "Um volume muito alto que chama a atenção", afirma. Outro resultado interessante da pesquisa é que 75% das crianças que faziam uso regular do álcool, no caso vinho e cerveja, eram do sexo masculino e apenas 25% do sexo feminino. Para a gastroenterologista do HCPA, esse dado revela a imposição machista que predomina naquela região. "Os pais consideram normal que o filho homem beba, até pela sua condição de macho", disse Themis.
Entre os 58,5% das crianças que ingeriam regularmente o álcool no ambiente familiar, 100% dos pais e 75% das mães tinham o hábito de beber diariamente. "Além disso, 51% dos entrevistados tinham produção própria de vinho e 2% produziam em casa a graspa, bebida obtida pela destilação da uva fermentada", informa Themis. Para ela, todo o trabalho serviu para mostrar a facilidade do acesso da criança ao álcool no ambiente familiar. "O 'terreno' naquela região é altamente propício para que menores de 15 anos, no futuro, venham a constituir grupo de risco".
Estudos realizados com crianças em períodos distintos indicou a redução da idade média de início do uso do álcool. Um trabalho elaborado no ano de 1993 junto a escolas de dez capitais brasileiras mostrou que a idade média era de 13 anos. Já em outra pesquisa feita no ano de 1997, com crianças que já estavam em tratamento, a idade média passou para 11 anos.
"Em hipótese alguma deve se oferecer álcool a uma criança, mesmo quando imperem fatores como tradição e cultura", destacou a médica do Conceição. Os efeitos do álcool no organismo de uma criança têm um impacto muito maior em relação aos adultos pois, antes dos 14 anos, o fígado ainda não está pronto para metabolizar o álcool.


Fonte: Boa Saúde. uol.com.br

Leia mais…
Leia mais!